O governo brasileiro fará nesta semana o primeiro leilão de compra de arroz. A importação custará bilhões aos cofres públicos. Confira um trecho da conversa que tive com o pesquisador da FGV Agro, Felippe Serigatti, e com o comentarista da Jovem Pan, Luiz Felipe D’Avila.
O governo definiu que o quilo do arroz tem que ser vendido a R$ 4. Ou seja, é uma intervenção, é a mão do governo no mercado dizendo que esse arroz que ele comprou tem que ser vendido pelo preço que ele estabeleceu como o melhor preço. No curto prazo, para alguns essa pode parecer uma medida muito boa. O problema é que a gente tem ciclos econômicos e impactos nas decisões até de plantio aqui do Brasil. Porque se eu não tenho garantia do preço que eu vou receber pelo produto que eu decidi investir, por que que eu vou investir nesse produto? É assim que funciona o ciclo econômico e a intervenção do governo na decisão dos produtores?
Felippe Serigatti: Você tem um custo em torno dessa política. Uma política que tem um desenho que a gente já testou várias vezes lá no passado. Fica curioso a gente insistir nessas soluções que não entregaram o resultado. No discurso, o presidente Lula comentou de importar 1 milhão de toneladas, mas se não me engano o que a portaria está comentando é 140, 170 mil toneladas de um volume total de 10,5 milhões de toneladas. Esse é onúmero mais recente da Conab. Então essa é a safra 23/24 brasileira de arroz. Não é essa 140 mil toneladas que vai mudar o preço de equilíbrio desse mercado.
Vai favorecer de um lado quem conseguir ter acesso esses pacotes de arroz mais baratos mas a um custo para os cofres públicos, não só um custo elevado, mas a pergunta é: realmente é necessário incorrer nesse custo, a necessidade de alocar esses recursos para conter uma alta do preço do arroz que de acordo com o próprio IBGE sequer aconteceu?
Então, você tem lá um instrumento que é defasado, já está obsoleto, que é essa de tabelar preço num volume que provavelmente não vai fazer diferença para o volume total do mercado alocando recursos públicos que talvez fossem mais bem aplicados se fosse utilizado justamente para socorrer esses produtores para que no próximo ciclo eles tenham condições de produzir uma boa safra, transformando esse choque adverso em um choque temporário.
O que governo pretende fazer é uma importação de 1 milhão de toneladas. Isso dá cerca de 10% do que é produzido. Só que esse volume vai sendo internalizado aos poucos. Isso, de fato, não afeta o preço? Mas a expectativa do agricultor de que ele pode decidir por uma cultura mas a qualquer momento pode haver uma intervenção mais forte que mude efetivamente o preço?
Luiz Felipe D’Avila: Eu vou dizer o que o ministro estava dizendo aqui na sua abertura desse programa. Ele dizendo que há uma especulação do mercado. É uma coisa inacreditável. Um desequilíbrio temporário passa a ser uma especulação do mercado. A esquerda tem essa visão de que o mercado é um jogo de soma zero. Se um está ganhando, é porque algum ganancioso na outra ponta está ganhando muito. E isso é não compreender o funcionamento do mercado.
Desajustes temporários ocorrem, ainda mais no caso do Rio Grande do Sul. Agora, o Brasil já gasta R$ 500 bilhões por ano com subsídios, é uma coisa inacreditável. E muitos desses subsídios não tem nenhum impacto, resultado na ponta. Então isso aqui é uma forma, é uma verba de marketing para ‘marketear’ em cima da desgraça alheia e prejudicar o pequeno e médio produtor, a renda do pequeno e médio produtor do Rio Grande do Sul, aquele que mais precisa ajuda.
Me lembro uma frase do ex-presidente americano Ronald Reagan que diz o seguinte: quando o mercado funciona, a primeira coisa que o governo faz é taxar. Se taxar e continua indo bem, ele regulamenta. E se depois de regulamentar e taxar, continua indo bem aí o negócio quebra e o governo subsidia. Essa é a lógica do governo atual.