Guerra comercial 2.0: Entenda os efeitos de uma guerra comercial

Kellen Severo Kellen Severo
@kellen.severo
11:56 Jornal da Manhã 11 de novembro de 2024

Donald Trump escolheu Robert Lighthizer, ex-chefe do USTR (representante do comércio dos Estados Unidos), para liderar as políticas tarifárias de seu novo mandato. Pela promessa de campanha, Trump defende uma taxação de 60% sobre produtos da China. A Eurasia Group afirma que desta vez, os efeitos ao agro brasileiro deverão ser diferentes. 

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TARIFAS DE TRUMP CONTRA CHINA DEVEM COMEÇAR JÁ EM 2025

Eurásia diz que efeitos no agro serão diferentes

Donald Trump escolheu Robert Lighthizer, ex-chefe do USTR (representante do comércio dos Estados Unidos), para liderar as políticas tarifárias de seu novo mandato. Pela promessa de campanha, Trump defende uma taxação de 60% sobre produtos da China. A Eurasia Group afirma que desta vez, os efeitos ao agro brasileiro deverão ser diferentes. Confira a entrevista com Christopher Garman, diretor para as Américas da Eurasia Group.

Trump já começa a montar sua equipe. Você fala em equipe leal. Nomes já estão na mesa para ocupar os principais cargos, com influência na economia e no agro?

Eu acho que o nome mais importante que acabou de ser indicado é de Robert Lighthizer. Ele foi o chefe do USTR, que negocia a política comercial. O que a gente tem escutado é que ele vai ter um papel importante na formulação de políticas comerciais tarifárias. Vem dele e da campanha de Trump uma promessa de colocar uma tarifa de importação para todos os produtos chineses de 60%. A taxa média de importação hoje é 11,3% e também uma promessa de colocar uma tarifa linear de 10% a 20% sobre todos os produtos que entram na economia americana.

Não vai ser 60%, tá? Na nossa estimativa achamos que vai aumentar a tarifa média de importação de produtos chineses de 11% para 20% a 30%, mas ainda assim é uma cacetada importante. Então, a gente vai viver não só com as repercussões de mais inflação mas também vamos ter que avaliar como é que os chineses vão reagir a essa retaliação e que a gente escuta em Pequim é que eles vão ser cautelosos na reação inicial.

Isso vai ser a primeira ação de Trump isso já no começo de 2025?

Como você disse é uma cacetada já no início e talvez esses 20% a 30% seja uma escadinha. Talvez o governo venha a colocar tarifas diferenciadas em certos produtos, mas acreditamos que ao longo do primeiro semestre 2025, vamos ter medidas tarifárias, sim, contra a China Chegando a 20% a 30%.

Eu sei que o agro brasileiro pode ser um beneficiador porque se você tem uma  guerra comercial com os Estados Unidos e China, aí o agro pode suprir o mercado chinês como fez no primeiro mandato. Mas a nossa aposta é que talvez não seja o mesmo efeito no primeiro mandato. Não só porque a soja brasileira já ocupa um espaço bem maior no mercado chinês em comparação com o primeiro mandato, mas também os chineses vão ter um pouco de cautela em colocar tarifas de importação se isso elevar os preços de alimentos domesticamente. Talvez a retaliação chinesa sobre os americanos seja sobre outros produtos. Então acho que o agro brasileiro pode ganhar, mas talvez não tanto quanto no primeiro mandato.

Gostaria ainda de explorar o impacto do aumento de tarifas gerais não só para a China mas também sobre o Brasil.  Por exemplo, os Estados Unidos hoje é o segundo destino das exportações de carne do Brasil. Haveria impacto de qual proporção na sua visão a partir dessa política se ela for de fato colocada em prática já no começo de 2025?

É, acho que o Brasil pode sofrer algo, sim, de medidas tarifárias, sem dúvida nenhuma como vários outros países. O governo Trump também vai tentar colocar medidas de protecionismo para o agro americano e ajuda para o agro americano. Porque veja que se o governo Trump implementar uma política tarifária pode sofrer retaliações parciais do setor agro, talvez não tanto quanto o primeiro mandato, mas podem sofrer.

China é o principal parceiro comercial do Brasil. China que terá Xi Jinping vind oao Brasil, especialmente depois da eleição de Trump. Está marcada uma vinda dele agora em novembro para o Brasil. Isso significa que o governo Lula e governo de Xi Jinping formarão uma aliança mais próxima diante de um governo Trump agora eleito? O primeiro passo dessa aliança mais próxima será a adesão do Brasil à Rota da Seda?

É bem delicado essa essa relação porque se o Brasil vier anunciar adesão à Rota da Seda, certamente o Brasil entra no radar do governo Trump mais do que deveria. Nossa avaliação na Eurásia, conversando com diplomatas brasileiros e também no Planalto, é que provavelmente o Brasil não vai aderir à Rota da Seda. O argumento que tem sido feito dentro do governo brasileiro, pelo menos de uma ala, é que se você adere à Rota da Seda, você ganha pouco em termos de compromissos de investimentos e você acaba se aderindo a um grupo e que compõe países menores. E no fundo, o argumento que está sendo feito no Itamaraty é que a adesão à Rota da Seda ‘apequena’ o país, que é melhor você ter uma relação bilateral e você pode negociar acordos bilaterais sem a adesão à Rota da Seda.  O presidente Xi Jinping quer que o Brasil adere a esse acordo e também tem um desejo da China de aprofundar relações com países como o Brasil exatamente com um maior tensionamento com os Estados Unidos. Então, o governo Brasil está tentando aproveitar qual qual melhor maneira de se aproveitar dessa janela. Mas acredito que talvez venha um acordo mais bilateral com alguns termos específicos mas não adesão a Rota da Seda que é uma boa notícia para não gerar um desgaste desnecessário com o governo Trump.

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