O PhD em meteorologia, Luiz Carlos Molion, revela que secas semelhantes a que estamos passando já ocorreram em décadas passadas e diz que condições climáticas como essa são cíclicas. Confira um trecho da conversa que tive com ele.
Estamos vivendo de fato a pior seca da história? Com base em quais dados podemos afirmar isto?
Você mesmo afirmou que estamos num período de seca,existem localidades aí no Centro-Oeste, por exemplo, que normalmente, em média, de maio até setembro chove 5% do total anual. É normal se ter esse tipo de situação e eu não concordo que seja a pior seca dos últimos 50 anos porque tivemos, por exemplo, 1963 um ano bastante seco associado a um El Niño e também um El Niño em 2014/2015, vocês se lembram muito bem que afetou severamente São Paulo. São Paulo teve que usar o tal do volume morto lá da Cantareira, que deixou muita gente preocupada com a falta de água. Então, esse tipo de situação para mim é normal.
O que está acontecendo é que acima de 3 km de altura, mais ou menos, a umidade relativa está muito baixa, está inferior a 10% por exemplo. Chegou em de Brasília a 4% a umidade relativa. Isso faz com que haja maior transmissividade, maior transparência da atmosfera e maior transmissividade da radiação solar. Como, de fato, estamos com alguns locais com 140 dias sem chuva, é óbvio que essa radiação solar está entrando mais por conta da atmosfera superior que está mais seca. Essa radiação vai ser usada não para evaporar a água porque não tem, mas para aquecer o ar. E as secas, elas são muito relativas. No passado já aconteceram secas severas, como por exemplo, se eu pegar aí o Centro-Oeste, Minas Gerais ou o oeste de São Paulo em 1929, 1931, 1933. O próprio ano de 1963 e 1984 também foi um ano seco. Agora, ficar seco nesse período não há problema nenhum.
Só por curiosidade, o Porto de Manaus, no Rio Negro, nós temos dados dele desde que os ingleses começaram a construção do porto flutuante, desde1902. São 20 anos ou mais de dados. O nível mais baixo do Rio Negro nessa série histórica foi 1926. Aí eu deixo a pergunta para o telespectador: qual é o desmatamento que existia na época ou a quantidade de gás carbônico que o homem coloca? Então essas coisas são repetitivas. Vamos pegar um caso recente. Ao contrário, a cheia de Porto Alegre já tinha ocorrido em 1941, em maio de 1941. Levou 83 anos para ocorrer de novo, mas você nota que esses eventos são eventos que na média, no fundo, eles desaparecem. São anos que podem ocorrer ou excesso de chuva ou falta dela e são anos normais, vamos dizer assim, dentro do padrão do padrão que a gente tem.
Esse período de seca mais agudo está no ápice e a gente vai ver um afrouxamento, que é um sinal de alívio para a safra nova de verão?
Minha previsão para o restante do ano, em outubro, novembro e dezembro é, em algumas localidades, de 600 a 800 milímetros aqui no no Centro-Oeste de tal forma que a gente vai terminar o ano e no histórico posteriormente, não vamos ver que esse ano de 2024 significou assim uma seca severa.