Brasil nunca esteve tão próximo de aderir à Rota da Seda

Kellen Severo Kellen Severo
@kellen.severo
08:37 Jornal da Manhã 30 de setembro de 2024

A Rota da Seda é um projeto estratégico da China que tem o objetivo de construir uma grande rede de infraestrutura, incluindo portos, ferrovias, estradas de forma a conectar a China a diversos países ao redor do mundo e facilitar o comércio e ampliar a influência global chinesa. 

Segundo a BMJ Consultores, o Brasil nunca esteve tão próximo de aderir à nova Rota da Seda da China.  O tema está em discussão em Brasília, especialmente porque Xi Jinping vem ao Brasil em novembro e a parceria poderá ser anunciada na ocasião. Para a BMJ Consultores, a decisão pode ter um alto custo geopolítico.

Confira um trecho da conversa que tive com o coordenador de comércio internacional da BMJ, Josemar Franco.

O governo Lula já decidiu aderir à Rota da Seda?

O governo ainda não tomou a decisão final, essa é a verdade. É um plano que está sendo desenhado há bastante tempo, eu diria que desde o início do governo Lula quando ele fez a primeira visita à China no ano passado. Como você bem disse, também foi aprofundada essa discussão durante a visita do vice-presidente Alckmin e o que nós temos visto é um aprofundamento dessa discussão dentro do governo. Então, existem sim diversas opiniões, opiniões mais atreladas à entrada do Brasil à nova Rota da Seda, mas também existe quem pensa diferente. Mas de fato, existe uma vontade do governo em concluir essas discussões até a visita do presidente Xi Jinping no momento da Cúpula do G20 no final do mês de novembro.

Diante desse contexto que você coloca, a sua expectativa é que o Brasil ganhe ou perca em aderir à Rota da Seda?

Esse é um ponto fundamental porque o que o próprio governo brasileiro tem levado em consideração são os já robustos investimentos da China no país. Então é provável que haja um incremento desses investimentos, dos montantes de investimentos na China no país. Mas é importante que a gente também analise o todo, todo o contexto geopolítico da entrada do Brasil nesse projeto. Cabe a nós destacarmos que atualmente mais de 140 países já fazem parte dessa estratégia chinesa, incluindo importantes vizinhos nossos como a Argentina, o Chile, o Peru, Uruguai. Mas o fundamental vai ser a avaliação do governo em relação à conjuntura internacional como um todo. Ou seja, o principal resultado negativo da entrada do Brasil na nova Rota da Seda seria uma indisposição com o governo americano e é algo que o governo brasileiro tem avaliado com muito cuidado.

Ao aderir à Rota da Seda vai haver um aumento da influência da China no Brasil e poderia haver uma retaliação dos Estados Unidos em relação ao Brasil por conta desse movimento, independente de Kamala ou Trump ganharem a eleição?

No final do dia é esse o cálculo que está sendo feito pelo governo brasileiro. Então, de um lado você tem atração de mais investimentos chinês, o que obviamente resulta em maior competitividade das nossas exportações no fim do dia, com rotas transoceânicas, a construção de estradas, ferrovias, o que é um grande sonho do atual governo. Mas, de outro, você tem, sim, a possibilidade de uma retaliação americana, seja ela no formato que for. 

Então o Brasil, por meio dessa avaliação que está sendo feita no momento, tem levado em consideração todos esses fatores. Mas é muito importante a gente levar em consideração o cenário de eleições nos Estados Unidos. A gente pode ter, sim, uma guinada política americana e isso pode resultar num aprofundamento ou não das relações com o Brasil.

Há uma inclinação maior a dizer sim e aproveitar o momento político da visita de Xi Jinping para fazer esse anúncio oficial?

Eu diria que nós não nós nunca estivemos tão perto de aderir à nova Rota da Seda. Os próprios chineses têm pressionado bastante o governo brasileiro. Então a gente tem escutado que os diplomatas chineses já colocaram muito claro que o presidente Xi não vem para assinar memorandos de entendimento. Ele quer entregas concretas, além da abertura de mercados que o próprio Ministério da Agricultura planeja também. A principal entrega, sem dúvidas, seria a entrada do Brasil na nova Rota da Seda.

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