O boi gordo superou o patamar de R$ 300 por arroba e atingiu o maior valor desde setembro de 2022. A projeção da Radar Investimentos é que os preços da carne bovina ficarão mais altos. Confira a conversa que tive com o CEO da empresa, Leandro Bovo.
O que gerou essa alta da arroba do boi no campo?
Essa alta, esse movimento, ele não teve uma única causa específica. Como todo grande movimento são uma conjunção de fatores que acabou desencadeando disso. Os principais são a exportação. A nossa arroba ficou muito barata para o mercado internacional e agora o culpado entre aspas não é só a China. A China ainda é o nosso maior comprador, mas a gente tem vendido bastante para China, para os Estados Unidos, para para o Oriente Médio, para o Chile. Enfim, a gente ficou muito barato com a alta do dólar, a nossa carne ficou muito barata no mercado internacional. E além disso, a seca que a gente teve esse ano, uma seca histórica, de proporções históricas em que afeta enormemente a qualidade das pastagens, a capacidade de suporte das pastagens, diminuindo a produção de carne e obviamente isso se reflete em altas de preço.
A gente está falando aqui de uma arroba de mais de R$ 300, um dos patamares mais altos desde 2022. E não faltam perguntas da nossa audiência querendo saber se chegará a R$ 400 a arroba. Ou seja, o preço vai continuar subindo mais e vai chegar nesse patamar aí desejado por muitos pecuaristas?
Olha, eu faço uma brincadeira que é o seguinte: eu tenho certeza que ela vai chegar em R$ 400, só que eu não sei em qual tempo porque a tendência dos alimentos e inflação e tal acaba sendo de alta, obviamente. Mas assim, tirando a brincadeira do lado, eu acho que no curto prazo, médio prazo, R$ 400 é um nível muito alto. Até porque acaba afetando a capacidade de compra, a demanda no mercado interno e o mercado interno é o principal consumidor da carne brasileira. E diante da situação econômica, com certeza o mercado não suportaria carne nesse nível de preço. Então eu acho que R$$ 400 é muito muito exagerado no momento, mas a notícia é que não tem muita expectativa de baixa. Inclusive, não só a carne bovina, mas o milho tem subido bastante justamente por conta dessa questão de seca também. E o milho subindo, é frango e suíno mais caro também. Então a inflação de alimentos, infelizmente, para o consumidor, ela deve continuar atrapalhando um pouco aí as festas de fim do ano. Vai ser um pouco mais caro.
Se a arroba no campo não tem sinais de que vai ceder, do outro lado a gente tem uma carne bovina ao consumidor que vai subir. A minha pergunta é todas as carnes, incluindo, a picanha, a picanha vai ficar mais cara?
Vai. Vai e não tem como escapar disso. O que que acontece, né? Uma coisa interessante é que a gente vinha tendo uma queda de preços até, vamos dizer, junho e julho a gente teve uma queda de preço muito grande da arroba. Em São Paulo, chegando a ser negociado até R$ 230 por arroba, que eram, 2019, 2020 pré-pandemia, eram patamares pré-pandemia. Então 4 anos atrás, essa queda de preço muitas vezes ela não foi repassada para o consumidor final. Ou seja, o varejo conseguiu absorver essa margem comprando a carne no atacado mais barato e não repassando essa queda de preço para o consumidor final. Nesse momento, pode acontecer o movimento inverso. Ou seja, a carne no atacado subindo bastante, mas o varejo, até para preservar consumo, não repassando toda essa alta ao consumidor final. Então eu acho que talvez a carne no varejo tenha uma alta atenuada por esse fator, mas vai subir não tem como não subir.