Os EUA anunciaram que vão elevar as tarifas sobre produtos da China. Em alguns casos, como o de veículos elétricos, as taxações aos produtos chineses chegarão a 100%. O país asiático já disse que vai retaliar a medida e o agro acompanha o assunto já que EUA e China são importantes parceiros comerciais do Brasil.
Acompanhe um trecho da entrevista com Lucas Azambuja, professor de relações internacionais do Ibmec.
Nós vemos Biden agora apontando para mais tarifas contra os produtos chineses e a China diz que vai retalhar. Também temos uma eleição dos Estados Unidos em novembro. Estamos na iminência de chegar num terceiro ou quarto degrau em que essas relações, já deterioradas, piorem? Quais efeitos colaterais sobre o Brasil ficarão mais claros?
A tendência é que sim. Ou seja, que os objetivos, a medida das duas potências se tornem cada vez mais claros e definitivos e que haja uma escalada desse conflito. E recentemente, inclusive, numa outra dimensão, que é a dimensão política, foi descoberto agentes chineses de espionagem infiltrados no FBI na CIA.
Então, isso tem mostrado o fato de isso ocorrer, esse tipo de investigação ocorrer já mostra sinais de que essa tensão ela tende a se escalar uma vez que os dois países passam por uma conduta de no caso dos Estados Unidos retomar a sua posição de potência hegemônica e no caso da China de tentar substituir os Estados Unidos nesse papel. A gente também teve o caso da rede social TikTok, que foi severamente limitada o seu alcance e houve até banimento relativo dessa rede. Então é natural que isso comece por esses mecanismos mais institucionais, mais tarifas, pressões alfandegárias, retaliações, acionar ao OMC por algum tipo de contencioso.
Na rivalidade entre Estados Unidos e China qual vai ser o papel do Brasil nessas novas alianças que estão a se formar?
Bom aí a gente tem dois cenários, né? O que eu acho é que o cenário mais provável, haja vista a orientação ideológica do atual governo Lula, é buscar essa aproximação com a China e reforçar esse discurso chinês que tem se realizado via BRICS de afastar os Estados Unidos e construir essa aliança que eles tem chamado de contra-hegemônica. Então esse próprio termo já sinaliza um discurso fortemente ideológico de adesão à China por parte do atual governo.
Aderir à China é virar as costas para os Estados Unidos?
Exatamente. Ou seja, não privilegiar tanto as relações comerciais com os Estados Unidos, ceder a algum tipo de exigência da China que o Brasil pudesse colaborar com possíveis retaliações com os Estados Unidos e se tornar um parceiro mais próximo da China e menos próximo dos Estados Unidos não só na parte comercial e do agro, mas também em em outros campos.
Essa é uma realidade já para 2025, é uma realidade de curto prazo?
Eu imagino que já está em andamento. Nós tivemos pela primeira vez a autorização de exercícios militares do exército chinês aqui em território nacional. Isso é um forte sinal de uma possível aliança. Nós tivemos a formação por parte do partido dos trabalhadores de alianças, convenções com o partido comunista chinês e também com o partido comunista vietnamita, que é coligado, vamos colocar assim, com o partido comunista chinês, tivemos visitas importantes como o ministro da Defesa brasileiro indo à China e estabelecendo protocolos. Então isso mostra que está havendo uma aproximação em razão, no meu entendimento, de uma identidade ideológica com o partido comunista chinês por parte do partido dos trabalhadores. Os investimentos da China também tem sido robustos no Brasil. A gente vê também de alguma forma a deterioração com os Estados Unidos, nesse caso da Starlink do Elon Musk e isso pode ter repercussões que leve um afastamento com os Estados Unidos.